sexta-feira, 24 de maio de 2013

Years Around the Sun - Miles Away

Uma música. Porque hoje é sexta, porque eu sinto falta do verão, sol, mar e de estar andando de havaianas sem rumo por alguma ilha da Ásia. Se tem alguma coisa melhor na vida, ainda não fui apresentada.

Para agradar a todos, segue a letra original e traduzida. Divirtam-se, relaxem, tenham um bom fim de semana.

ps: that one goes especially to you, beloved little brodha ;)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Resenha (e obra): Filtro Solar - Mary Schmich

Título: Filtro Solar (Wear Sunscreen)
Autora: Mary Schmich
Páginas: 96
Editora: Sextante

Um livrinho novo, um texto conhecido e palavras que o tempo não cansa nem deixa velhas.

Esse "conselho" que foi escrito por uma jornalista que fingiu que seria o discurso de formatura de uma turma da qual seria oradora, foi publicado no Chicago Tribune e ficou famoso no Brasil na voz do Pedro Bial, agora ganhou capa e ilustrações.

Um livrinho pequeno, versão de bolso, bonito, bom pra ter perto e reler de vez em quando. Um bom presente ;)



Filtro solar!

Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta:
Usem o filtro solar!
Os benefícios a longo prazo
Do uso de filtro solar estão provados
E comprovados pela ciência
Já o resto de meus conselhos
Não tem outra base confiável
Além de minha própria experiência errante
Mas agora eu vou compartilhar
Esses conselhos com vocês...

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece...
Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas pode crer, daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos
E perceber de um jeito que você nem desconfia, hoje em dia, quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente.
E como você realmente tava com tudo encima.
Você não tá gordo, ou gorda.

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação
É tão eficaz quanto mascar chiclete
Para tentar resolver uma equação de álgebra.

As encrencas de verdade da sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada
E te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de um terça-feira modorrenta.
Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
Às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
É só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
Aos 22, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer, não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você.
As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo, é assim pra todo mundo.
Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder, mesmo!
Não tenha medo do seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance! 

Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio!

Dedique-se a conhecer os seus pais.

É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado
E possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.

Esforce-se de verdade pra diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida.
Porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer..
Você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis,
Os políticos eram decentes
E as crianças respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos. E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada,
Talvez case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar,
Mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo,
Repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Resenha: A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak



“Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.”

Título: A Menina que Roubava Livros (The Book Thief)
Autor: Markus Zusak
Páginas: 499
Editora: Intriseca

A menina que roubava livros, “Quando a morte conta uma história, você tem que parar para ouvi-la”. Narrado por ninguém ou nada menos que a Morte, esse é um dos meus livros favoritos e talvez o mais bonito que eu já li.

Na Alemanha Hitlerista, Liesel Meminger, uma menina de nove anos, é levada pela mãe para uma pequena cidade chamada Molching.

No percurso de trem até lá, o irmão mais novo de Liesel morre no meio da noite, após um acesso violento de tosse. Ninguém está acordado para ver, ninguém além da morte que vem buscá-lo, e da pequena menina que a surpreende, quando ela pega a pequena alma nos braços.

Essa é a primeira vez que a morte e Liesel se encontram, e a primeira vez que Liesel lhe escapa. No total, seriam três.

Quando a menina e a mãe param em uma cidade do caminho para enterrar o pequeno, contrariando seu bom senso, a morte volta para acompanhar o enterro. Curiosa em rever a menina. Ela observa quando ela se afasta com a mãe e quando se abaixa para pegar na neve o pequeno livro preto que um dos coveiros deixara cair. “O Manual do Coveiro”, seu primeiro livro roubado. Ela o agarra firme junto ao peito, embora não soubesse ler.

Ao chegarem a Molching, as duas são levadas a um escritório onde sua mãe é interrogada. Liesel não entende nada, apenas nota que a palavra “comunista” se repete várias vezes. Por fim, se despedem e Liesel é levada a rua Himmel, onde é entregue aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann. 

Hans é pintor desempregado e toca acordeão. Um homem aparentemente sem valor algum, que gosta de enrolar cigarros e socorre Liesel no meio da noite quando ela acorda aos gritos por causa de pesadelos. Rosa lava e passa para fora, é rabugenta e especialista em dar apelidos relacionados a porcos a todas as pessoas a sua volta, inclusive à sua filha de criação.

Liesel, magra, pálida, com olhos perigosamente escuros vai à escola com Rudy Steiner e seus cinco irmãos que moram na casa vizinha as do Hubermann. Como criança nova na vizinhança, ela é colocada como goleira no time de futebol. Defende um pênalti cobrado por Rudy e na sequência ganha uma bolada de neve na cara do garoto de cabelo loiro limão e olhos azuis esbugalhados. “A única coisa pior que um menino que detesta a gente. Um menino que ama a gente.”

A segunda guerra segue e o próximo livro que Liesel rouba é de uma pilha que está sendo queimada. O pai a ensina ler de madrugada e um judeu que escondem no porão, o amigo sobre quem ela prometeu nunca falar, escreve e desenha para ela.

Fazendo do ato de roubar livros e aprender a lê-los seu propósito e ocupação, Liesel enfrenta as tristezas e miséria da guerra, sempre com Rudy ao seu lado, seu melhor amigo, parceiro no crime e o menino que tenta lhe roubar um beijo.

Enquanto isso, a Morte faz uma pausa e pega um capítulo como diário:

“DIÁRIO DA MORTE: OS PARISIENSES

Veio o verão.

Para a menina que roubava livros, tudo corria bem. Para mim, o céu era da cor dos judeus.

Quando seus corpos acabavam de vasculhar a porta em busca de frestas, as almas subiam. Depois de suas unhas arranharem a madeira e, em alguns casos, ficarem cravadas nela, pela pura força do desespero, seus espíritos vinham em minha direção, para meus braços, e galgávamos as instalações daqueles chuveiros, escalávamos o telhado e subíamos para a largueza segura da eternidade. E continuavam a me alimentar. Minuto após minuto. Chuveiro após chuveiro.

Nunca me esquecerei do primeiro dia em Auschwitz, da primeira vez em Mauthausen. Nesse segundo local, com o correr do tempo, também passei a pegá-los no fundo do grande penhasco, onde suas fugas acabavam terrivelmente mal. Havia corpos quebrados e meigos corações mortos. Ainda assim, era melhor do que o gás. Alguns deles eu apanhava ainda a meio caminho da descida. Salvei você, pensava comigo mesma, segurando suas almas no ar, enquanto o resto de seu ser — suas carcaças físicas — despencava na terra. Eram todos leves, como cascas de nozes vazias. E um céu enfumaçado nesses lugares. O cheiro fazia lembrar uma fornalha, mas ainda muito frio.

Estremeço ao recordar — ao tentar desrealizar aquilo.

Bafejo ar quente nas mãos, para aquecê-las.

Mas é difícil mantê-las aquecidas quando as almas ainda tiritam.

Deus.

Sempre pronuncio esse nome, ao pensar naquilo.

Deus.

Duas vezes, eu repito.

.... “.

A Menina que Roubava Livros é uma narrativa feita como se fosse conto, poesia, romance, ficção, realidade. As melhores formas de contar uma história foram todas usadas em uma única, o que torna impossível não sentir esse livro. Em um minuto você chora, noutro você ri, depois pragueja, fica feliz e tem o coração torcido e quebrado em um milhão de lágrimas, para depois se juntar com fé de novo.

Graças a uma Morte poeta, um livro campeão em me fazer chorar.

“E não sou muito boa nessa história de consolar, especialmente quando tenho as mãos frias e a cama é quente. Carreguei-o com delicadeza pela rua destroçada, com sal nos olhos e o coração mortalmente pesado.”

Um livro denso, que fala sobre a força e ao mesmo tempo a crueldade humana. Que ensina o valor de um “eu sinto muito” e o poder do amor e amizade.

Fico impressionada com o que os seres humanos são capazes de fazer, mesmo quando há torrentes a lhes descer pelos rostos e eles avançam cambaleando, tossindo e procurando, e encontrando.”

A Morte.