Diz o ditado popular que toda
pessoa tem que fazer três coisas antes de morrer: Plantar uma árvore, escrever
um livro e ter um filho. Lendo essa frase têm-se a impressão de que os itens
foram citados por ordem crescente de dificuldade, e caso tenha sido essa a intenção,
ainda bem que o autor da frase usou a palavra “escrever”, se houvesse optado
por uma menos poética, como “publicar”, talvez o ditado não tivesse se tornado
tão popular ou correto, já que um filho nasce em nove meses e publicar um
livro, se acontecer, pode levar uns bons anos.
Há algum tempo, comecei uma
pesquisa sobre qual seria o processo a ser enfrentado por alguém que quisesse
publicar um livro no Brasil. A principio, o passo a passo, não parece tão
difícil. Primeiro há, é claro, que se escrever uma obra literária. Depois de
concluída, o conselho geral é para que se faça o registro do material na
Biblioteca Nacional, isso para que o autor tenha o direito de processar alguém
em caso de plágio quando começar a enviar a obra impressa para os quatro cantos
do país, pois é esse o próximo passo, mandar para o maior número de editoras
que trabalhem com publicações do gênero da sua. É importante fazer essa
pesquisa sobre os gêneros de livro com que cada editora trabalha, pois a
maioria solicita que a obra seja enviada impressa, então caso o seu livro tenha
quinhentas páginas, ou mesmo cem, ninguém gosta de gastar dinheiro com
impressão e envio de um material que a editora nem mesmo vai ler, pois não se
enquadra na sua linha de trabalho e produção.
Feito isso, é esperar. E esperar
sentado, deitando eventualmente. A maioria das editoras pede um prazo de até
seis meses para analisar sua obra e lhe dar alguma resposta. Isso quando dão. A
outra grande maioria não da qualquer tipo de feedback e como geralmente pedem sinopse e resumo, é de se concluir
que nem chegam a fazer uma avaliação total do conteúdo da obra, o que é um
erro, pois se dependesse de resumos, eu deixaria de ter lido livros excelentes.
Mas qual o problema? Como há
tantos livros no mercado se há tantas negativas? A resposta é simples:
traduções. As editoras brasileiras adoram comprar direitos autorais de obras
que já fazem sucesso em outros países e somente traduzi-las para o português. Já vem com o número de vendas de exemplares no exterior estampado na capa e o lucro é garantido.
Uma boa tacada para o mundo
capitalista, uma bela facada no mercado literário nacional. Acumulando pilhas
de negativas de editoras e frustração, é cada vez mais comum ao autor nacional
percorrer caminhos alternativos.
Um desses caminhos são as
editoras para as quais você paga pela revisão, capa e publicação do material e
ela ajuda a promovê-lo. Empresas que prestam esse serviço já possuem vários
planos disponíveis, no melhor esquema de companhia telefônica. Mediante o
pagamento de tal quantia você publica. Por uma soma extra, ganha uma capa e por
mais um bocadinho a revisão também.
Outra opção nasceu da ideia de
pessoas que perceberam a realidade do mercado editorial e resolveram criar
empresas online, cujo site aceita qualquer tipo de obra e a publica sem custo.
Caso o livro venda e lucre uma determinada quantia mínima, o autor começa a
receber uma porcentagem do valor arrecadado como direitos autorais.
E existem ainda raríssimas
empresas que recebem originais, os analisa e publica pequenas tiragens, arcando
eles mesmo com todo custo de produção. Caso todos os exemplares dessa primeira
tiragem sejam vendidos, uma nova leva é impressa. Os profissionais dessa
empresa também ajudam a promover o livro em lançamentos e canais online, assim
como dão dicas de como o próprio autor pode começar a fazer propaganda da sua
obra. O lucro do autor vem novamente de uma porcentagem sobre cada exemplar
vendido, acertado previamente com a editora.
Esses são caminhos cada vez mais
seguidos por autores que cansaram de ver seus livros na gaveta. Mas
sinceramente, podemos culpar apenas as editoras por isso? Levante a mão quem
ligou a TV, o rádio, abriu o jornal e viu um espaço mínimo que seja, mas
inteiramente dedicado a falar sobre lançamentos literários? Bom, se você achou,
me indique, porque eu gostaria de aumentar a audiência em reconhecimento a essa
brecha rara.
A mídia atual, mídia de massa,
como TV e rádio, não disponibiliza nenhum espaço para a divulgação de obras
literárias, o que ajudaria e muito a impulsionar esse mercado e daria um bom
incentivo e apoio às editoras para investirem mais em talentos nacionais.
Uma prova dessa realidade é o
crescente número de blogs que resenham livros e se dedicam a comentar e indicar
obras lidas, ávidos em trocar ideias e informações, e encontrando somente a
internet como espaço para isso. Faça uma busca rápida e poderá constatar o
grande número de blogs literários em funcionamento atualmente. Graças a isso, é
na internet também que os poucos autores nacionais ganham seu destaque e fama.
Com as mídias fechadas a esse segmento, a internet é o respiro, o meio pelo
quais os leitores, dos casuais aos devoradores de livros, se encontram para
comentar e conhecer, e onde também é prestado o reconhecimento aos autores que suaram
e continuam suando para conseguir ter suas obras publicadas.
É conhecida a lenda de que
“filmes de Hollywood são melhores que os nacionais”, e talvez por isso, o povo
brasileiro tenha finalmente experimentado uma leve “revolta” e começamos a presenciar
um número maior de pessoas comprando ingressos para apreciar o cinema nacional.
Agora, acredito que já esteja
mais do que na hora de jogarmos na nossa própria cara, que creditamos esse
estigma à literatura também. Passamos a acreditar que “obras de autores
internacionais são melhores que as escritas por brasileiros”. Vamos aceitar
isso para começar a mudar e quem sabe assim, editoras e mídia aumentem a
abertura e incentivo as mentes e talentos nacionais, indo além da sinopse.