quinta-feira, 11 de julho de 2013

Resenha: Um Dia - David Nicholls




Título: Um Dia (One day)
Autor: David Nicholls
Páginas: 416
Editora: Intrinseca


15 de julho de 1988, noite de formatura na faculdade. Dexter e Emma que nunca conversaram durante os anos que frequentaram o mesmo campus, se encontram e passam a noite juntos, bebendo, se beijando, conversando sobre o futuro. No dia seguinte, Dexter, um jovem bonito, popular e rico, estaria partindo para uma viajem ao redor do mundo e Emma, uma garota inteligente, cheia de princípios e com baixa auto-estima, estaria partindo para um futuro incerto, do qual ela espera muito, sem saber por onde e como começar.

15 de julho de 1989. Um ano se passou. Emma está escrevendo uma carta para seu amigo Dexter que está em Roma, curtindo a vida enquanto supostamente da aulas de inglês para belas alunas italianas. Emma está com saudades, participando de uma peça de teatro alternativa e sem grandes expectativas, falando para Dexter que seria bom vê-lo.

15 de julho de 1990. Dexter continua sua viajem de "auto descobrimento" e bêbado, escreve uma carta para sua grande amiga Emma, dizendo que sente sua falta e seria ótimo que ela viesse vê-lo. Emma deveria abandonar esses empregos que pagam mal e não a fazem feliz, lembrar que é uma mulher linda, inteligente e divertida e ir passar um tempo com ele conhecendo o mundo. Dexter guarda a carta dentro de um livro, não vai desistir, vai colocar no correio. Entra num bar e uma bela mulher o chama, ele esquece o livro em um canto do sofá e a carta se perde.

Ano após ano, acompanhamos uma história de amor entre dois grandes amigos. Emma simples, trabalhadora, lutando para sobreviver em empregos ruins enquanto sonha em ser escritora e conseguir algo a mais da vida. Dexter, playboy, bonitão, começa uma carreira na tv e usa e abusa de todos os prazeres que o dinheiro pode comprar.

O tempo passa, a vida segue, muda, e a única coisa que permanece é a amizade entre os dois. Uma amizade marcada por encontros e desencontros, cartas, telefonemas, viagens, altos e baixos. Dex e Em, Em e Dex. 

É bonito, triste, bem-humorado, irônico, irreverente, cheio de angustias e expectativas. Duas vidas narradas em vinte anos de amizade. O mérito do autor está em não cair na fantasia, não é conto de fadas, não é romance açucarado, o leitor tem que prestar atenção para entender todas as idas e vindas que duas vidas podem ter e como elas podem correr juntas, mesmo que separadas. 

Como torcer por um amor que acontece mesmo sem acontecer? O que vai ser dele afinal? Uma vez por ano, todo dia 15 de julho, podemos ver como a vida de Emma e Dexter está indo, para onde as escolhas de cada um os levam e graças a isso, Um Dia é aquela espécie rara de livro durante o qual você faz pausas para pensar na própria vida, nas escolhas que fez e no que poderia ser diferente.

Uma história linda... Dex e Em, Em e Dex.


"Parte um, 1988-1992 - Vinte e poucos anos

Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.


(Charles Dickens, Grandes Esperanças)"


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Brasil

Não posso perder a chance de deixar registrado aqui, esse momento inédito que vive nosso país. Quem se uniu as manifestações e foi pra rua lutar por tudo que precisa ser melhorado nesse país e para isso depende de um governo justo e honesto, sabe que a emoção de ver milhares de pessoas andando e protestando, em paz, juntas, é indescritível.

Para quem não foi porque tinha outra coisa para fazer no dia, ainda não acabou, ainda haverá outra chance de se levantar e ajudar esse país a ir pra frente. Para os brasileiros que estão fora do Brasil, apoiando, um pouco do que é ir pra rua, embalada por um dos conjuntos de versos mais bonitos já escritos.


Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

São Paulo

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Rio de Janeiro

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.

Bahia

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Belo Horizonte

Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Porto Alegre

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores,
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores". 

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Recife

Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
 Paz no futuro e glória no passado.

Florianópolis

Mas se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.


Brasília - Esplanada

Brasília - Congresso Nacional

Terra adorada
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!


Dos filhos deste solo
És mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!


Hino Nacional Brasilerio - Poema: Joaquim Osório Duque Estrada/ Música: Francisco Manoel da Silva


"...pra falar pra eles que não está certo o que eles fazem com o nosso dinheiro, com a nossa saúde, com a nossa educação!!!"






quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poesia: Panorama - Cecília Meireles


Panorama


Em cima, é a lua,
no meio, é a nuvem,
embaixo, é o mar.

Sem asa nenhuma,
sem vela nenhuma,
para me salvar.

Ao longe, são noites,
de perto, são noites,
quem se há de chamar?
Já dormiram todos,
não acordam outros...
Água. Vento. Luar.

O trilho da terra
para onde é que leva,
luz do meu olhar?
Que abismos aéreos
de reinos aéreos
para visitar!

Na beira do mundo,
do sono do mundo
me quero livrar.
E em cima - é a lua.
no meio – é a nuvem.
e embaixo – é o mar.
  

5 de junho, dia Mundial do Meio Ambiente. Feliz quem sabe andar por esse mundo e olhar a lua, as nuvens  e o mar.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Years Around the Sun - Miles Away

Uma música. Porque hoje é sexta, porque eu sinto falta do verão, sol, mar e de estar andando de havaianas sem rumo por alguma ilha da Ásia. Se tem alguma coisa melhor na vida, ainda não fui apresentada.

Para agradar a todos, segue a letra original e traduzida. Divirtam-se, relaxem, tenham um bom fim de semana.

ps: that one goes especially to you, beloved little brodha ;)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Resenha (e obra): Filtro Solar - Mary Schmich

Título: Filtro Solar (Wear Sunscreen)
Autora: Mary Schmich
Páginas: 96
Editora: Sextante

Um livrinho novo, um texto conhecido e palavras que o tempo não cansa nem deixa velhas.

Esse "conselho" que foi escrito por uma jornalista que fingiu que seria o discurso de formatura de uma turma da qual seria oradora, foi publicado no Chicago Tribune e ficou famoso no Brasil na voz do Pedro Bial, agora ganhou capa e ilustrações.

Um livrinho pequeno, versão de bolso, bonito, bom pra ter perto e reler de vez em quando. Um bom presente ;)



Filtro solar!

Nunca deixem de usar o filtro solar
Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta:
Usem o filtro solar!
Os benefícios a longo prazo
Do uso de filtro solar estão provados
E comprovados pela ciência
Já o resto de meus conselhos
Não tem outra base confiável
Além de minha própria experiência errante
Mas agora eu vou compartilhar
Esses conselhos com vocês...

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.
Ou, então, esquece...
Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado.
Mas pode crer, daqui a vinte anos você vai evocar as suas fotos
E perceber de um jeito que você nem desconfia, hoje em dia, quantas, tantas alternativas se escancaravam a sua frente.
E como você realmente tava com tudo encima.
Você não tá gordo, ou gorda.

Não se preocupe com o futuro.
Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que preocupação
É tão eficaz quanto mascar chiclete
Para tentar resolver uma equação de álgebra.

As encrencas de verdade da sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada
E te pegam no ponto fraco às 4 da tarde de um terça-feira modorrenta.
Todo dia, enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade.
Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros.
Não ature gente de coração leviano.
Use fio dental.
Não perca tempo com inveja.
Às vezes se está por cima,
Às vezes por baixo.
A peleja é longa e, no fim,
É só você contra você mesmo.
Não esqueça os elogios que receber.
Esqueça as ofensas.
Se conseguir isso, me ensine.
Guarde as antigas cartas de amor.
Jogue fora os extratos bancários velhos.
Estique-se.

Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida.
As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam,
Aos 22, o que queriam fazer da vida.
Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem.
Tome bastante cálcio.
Seja cuidadoso com os joelhos.
Você vai sentir falta deles.

Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante.
Faça o que fizer, não se auto congratule demais, nem seja severo demais com você.
As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo, é assim pra todo mundo.
Desfrute de seu corpo, use-o de toda maneira que puder, mesmo!
Não tenha medo do seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele.
É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir.
Dance! 

Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto.
Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois.
Não leia revistas de beleza, elas só vão fazer você se achar feio!

Dedique-se a conhecer os seus pais.

É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez.
Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado
E possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro.
Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons.

Esforce-se de verdade pra diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida.
Porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer.
More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer.
Viaje.

Aceite certas verdades inescapáveis: os preços vão subir, os políticos vão saracotear, você, também, vai envelhecer.
E quando isso acontecer..
Você vai fantasiar que quando era jovem os preços eram razoáveis,
Os políticos eram decentes
E as crianças respeitavam os mais velhos.
Respeite os mais velhos. E não espere que ninguém segure a sua barra.
Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada,
Talvez case com um bom partido, mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.

Não mexa demais nos cabelos, senão quando você chegar aos 40, vai aparentar 85.
Cuidado com os conselhos que comprar,
Mas seja paciente com aqueles que os oferecem.
Conselho é uma forma de nostalgia.
Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo,
Repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.

Mas no filtro solar, acredite!

terça-feira, 7 de maio de 2013

Resenha: A Menina que Roubava Livros - Markus Zusak



“Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.”

Título: A Menina que Roubava Livros (The Book Thief)
Autor: Markus Zusak
Páginas: 499
Editora: Intriseca

A menina que roubava livros, “Quando a morte conta uma história, você tem que parar para ouvi-la”. Narrado por ninguém ou nada menos que a Morte, esse é um dos meus livros favoritos e talvez o mais bonito que eu já li.

Na Alemanha Hitlerista, Liesel Meminger, uma menina de nove anos, é levada pela mãe para uma pequena cidade chamada Molching.

No percurso de trem até lá, o irmão mais novo de Liesel morre no meio da noite, após um acesso violento de tosse. Ninguém está acordado para ver, ninguém além da morte que vem buscá-lo, e da pequena menina que a surpreende, quando ela pega a pequena alma nos braços.

Essa é a primeira vez que a morte e Liesel se encontram, e a primeira vez que Liesel lhe escapa. No total, seriam três.

Quando a menina e a mãe param em uma cidade do caminho para enterrar o pequeno, contrariando seu bom senso, a morte volta para acompanhar o enterro. Curiosa em rever a menina. Ela observa quando ela se afasta com a mãe e quando se abaixa para pegar na neve o pequeno livro preto que um dos coveiros deixara cair. “O Manual do Coveiro”, seu primeiro livro roubado. Ela o agarra firme junto ao peito, embora não soubesse ler.

Ao chegarem a Molching, as duas são levadas a um escritório onde sua mãe é interrogada. Liesel não entende nada, apenas nota que a palavra “comunista” se repete várias vezes. Por fim, se despedem e Liesel é levada a rua Himmel, onde é entregue aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann. 

Hans é pintor desempregado e toca acordeão. Um homem aparentemente sem valor algum, que gosta de enrolar cigarros e socorre Liesel no meio da noite quando ela acorda aos gritos por causa de pesadelos. Rosa lava e passa para fora, é rabugenta e especialista em dar apelidos relacionados a porcos a todas as pessoas a sua volta, inclusive à sua filha de criação.

Liesel, magra, pálida, com olhos perigosamente escuros vai à escola com Rudy Steiner e seus cinco irmãos que moram na casa vizinha as do Hubermann. Como criança nova na vizinhança, ela é colocada como goleira no time de futebol. Defende um pênalti cobrado por Rudy e na sequência ganha uma bolada de neve na cara do garoto de cabelo loiro limão e olhos azuis esbugalhados. “A única coisa pior que um menino que detesta a gente. Um menino que ama a gente.”

A segunda guerra segue e o próximo livro que Liesel rouba é de uma pilha que está sendo queimada. O pai a ensina ler de madrugada e um judeu que escondem no porão, o amigo sobre quem ela prometeu nunca falar, escreve e desenha para ela.

Fazendo do ato de roubar livros e aprender a lê-los seu propósito e ocupação, Liesel enfrenta as tristezas e miséria da guerra, sempre com Rudy ao seu lado, seu melhor amigo, parceiro no crime e o menino que tenta lhe roubar um beijo.

Enquanto isso, a Morte faz uma pausa e pega um capítulo como diário:

“DIÁRIO DA MORTE: OS PARISIENSES

Veio o verão.

Para a menina que roubava livros, tudo corria bem. Para mim, o céu era da cor dos judeus.

Quando seus corpos acabavam de vasculhar a porta em busca de frestas, as almas subiam. Depois de suas unhas arranharem a madeira e, em alguns casos, ficarem cravadas nela, pela pura força do desespero, seus espíritos vinham em minha direção, para meus braços, e galgávamos as instalações daqueles chuveiros, escalávamos o telhado e subíamos para a largueza segura da eternidade. E continuavam a me alimentar. Minuto após minuto. Chuveiro após chuveiro.

Nunca me esquecerei do primeiro dia em Auschwitz, da primeira vez em Mauthausen. Nesse segundo local, com o correr do tempo, também passei a pegá-los no fundo do grande penhasco, onde suas fugas acabavam terrivelmente mal. Havia corpos quebrados e meigos corações mortos. Ainda assim, era melhor do que o gás. Alguns deles eu apanhava ainda a meio caminho da descida. Salvei você, pensava comigo mesma, segurando suas almas no ar, enquanto o resto de seu ser — suas carcaças físicas — despencava na terra. Eram todos leves, como cascas de nozes vazias. E um céu enfumaçado nesses lugares. O cheiro fazia lembrar uma fornalha, mas ainda muito frio.

Estremeço ao recordar — ao tentar desrealizar aquilo.

Bafejo ar quente nas mãos, para aquecê-las.

Mas é difícil mantê-las aquecidas quando as almas ainda tiritam.

Deus.

Sempre pronuncio esse nome, ao pensar naquilo.

Deus.

Duas vezes, eu repito.

.... “.

A Menina que Roubava Livros é uma narrativa feita como se fosse conto, poesia, romance, ficção, realidade. As melhores formas de contar uma história foram todas usadas em uma única, o que torna impossível não sentir esse livro. Em um minuto você chora, noutro você ri, depois pragueja, fica feliz e tem o coração torcido e quebrado em um milhão de lágrimas, para depois se juntar com fé de novo.

Graças a uma Morte poeta, um livro campeão em me fazer chorar.

“E não sou muito boa nessa história de consolar, especialmente quando tenho as mãos frias e a cama é quente. Carreguei-o com delicadeza pela rua destroçada, com sal nos olhos e o coração mortalmente pesado.”

Um livro denso, que fala sobre a força e ao mesmo tempo a crueldade humana. Que ensina o valor de um “eu sinto muito” e o poder do amor e amizade.

Fico impressionada com o que os seres humanos são capazes de fazer, mesmo quando há torrentes a lhes descer pelos rostos e eles avançam cambaleando, tossindo e procurando, e encontrando.”

A Morte.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dia Mundial do Livro




Livros. Do lado da cama são nove. Em cima da escrivaninha, três. No computador, quatro. Nas gavetas, já perdi a conta. Alguns dos meus favoritos estão lá, guardados e supostamente esquecidos, para me servir como um presente a hora que sem querer eu achá-los de novo. Outros dos meus favoritos estão brincando na minha cabeça, esperando para deslizar pelas pontas dos meus dedos e tomar forma.

Que coisa incrível é folhear algumas páginas, ler, e se perder em um mundo completamente diferente. As horas passam, desaparecem, sem que você sinta falta, sem que sinta que perdeu alguma coisa. Ter um mundo que se possa carregar debaixo do braço e mergulhar em todos os momentos vagos, onde tudo se transforma, é o que eu conheço de mais verdadeiro sobre magia.

Um livro nunca passará despercebido, gostando ou não do que ele tem a dizer, ainda fará você pensar, sonhar, imaginar. Dará voltas em sua cabeça, até que assimile tudo que ele pode oferecer e parta para o próximo.

Meu muito obrigado a todos os livros que já cuidaram de mim, que me tiram daqui e me devolvem mais tarde, com ideias novas, alteradas, ou diferentes. Aos livros que me fazem chorar, rir, sentir raiva, pânico, ternura, alegria, consternação, e todas as emoções que cabem tão bem em palavras.

Ler é um ato que começa com curiosidade, continua por satisfação e se mantém por amor. Obrigada a todos os autores que compartilham seus mundos reais ou imaginários, afinal, dividir pensamentos é além de um ato de coragem, um ato de amor e dedicação a aquele pequeno objeto de papel e a todos que um dia poderão ser transformados por suas palavras.





segunda-feira, 22 de abril de 2013

Resenha: Um Homem de Sorte - Nicholas Sparks


Título: Um Homem de Sorte (The Lucky One)
Autor: Nicholas Sparks
Páginas: 349
Editora: Novo Conceito


Finalmente li um livro do Nicholas Sparks. Para quem não é fã de romance como eu e não sabe quem é Nicholas Sparks, aqui vai uma breve explicação: ele é o autor de praticamente todos os Best Sellers de romance dos últimos tempos, e praticamente todos viraram filmes. O homem produz livros a rodo, a cada dois meses parece lançar um. E dois meses depois esse um já está virando filme.

Se ainda não faz nem ideia sobre quem estou falando, talvez alguns nomes de seus livros/filmes possam ajudar: Querido John, Diário de uma Paixão, A Última Música, Um Amor para Recordar, Noites de Tormenta, entre muitos outros.

Alguns são realmente excelentes, como Diário de uma Paixão e Noites de Tormenta. Me refiro aos filmes, porque os livros nunca cheguei a ler, descobri que eram livros depois de já ter visto os filmes. Mas outros, como Querido John e A Última Música não vão muito além de qualquer história da Disney para adolescentes.

De qualquer forma, a resenha aqui é sobre a obra Um Homem de Sorte. Nesse livro, o autor conta a história de Logan Thibault, um fuzileiro do exército norte-americano que durante a Guerra do Iraque encontra a foto de uma mulher desconhecida perdida no deserto.

Durante os cinco anos que passa a serviço do exército, Logan mantém a foto consigo e escapa de inúmeras situações de risco em que praticamente todos os seus companheiros morrem, menos ele. Seu único amigo sobrevivente, Vitor, se convence e o convence que a foto é uma espécie de talismã e que enquanto Logan a carregar estará seguro.

Depois da guerra, Vitor diz à Logan para procurar a tal mulher, falando que ele tem um divida de gratidão com ela. Assim, ele resolve partir a sua procura, com as poucas pistas que a foto lhe dá, a pé e contando apenas com a fiel companhia de seu cachorro Zeus.

Quando finalmente chega a uma cidadezinha do interior, depois de cruzar metade do país a pé, encontra a moça da foto, Beth, trabalhando em um canil. O canil fica ao lado da casa onde Beth mora com a vó, Nana e o filho de dez anos, Ben.

Antes de encontrar Beth, porém, Logan tem um encontro acidental com um policial nada confiável e agradável, que mais tarde, quem diria, descobre ser o ex-marido de Beth e pai de Ben. Ó, o mundo é mesmo uma meia lentilha!

Assim, diante da mulher cuja foto ele carregou pelos últimos cinco anos e acredita ser a responsável por ainda estar vivo, Logan resolve se empregar no canil, e sem revelar a Beth o verdadeiro motivo de estar ali, começa a conviver com ela e sua família. Lógico que não demora muito tempo para que os dois se apaixonem e o ciúme doentio de Keith, ex-marido, comece a ameaçar a felicidade do casal.

Se o livro é bom? Bom pra passar o tempo, pra fazer dormir, pra derreter corações que já nasceram derretidos, bom pra encher prateleira. Como obra literária, nada demais, nada que te faça morder os dedos e passar a madrugada acordada porque não dá pra dormir sem saber o que vai acontecer, como todo livro bom, em minha opinião, faz com você.

Mas tem seu valor. Nicholas Sparks sabe descrever bem um cenário e rotina a ponto de fazer você se sentir em casa a certa altura da leitura. Descreve bem conflitos humanos pessoais e interpessoais e teria personagens bem reais, se não exagerasse em alguns diálogos montados com o único objetivo de fazer o leitor escorregar no mel ou ficar embaraçado, com a sensação de que está vendo adolescentes se beijando no meio da calçada. Mas temos que admitir que isso atrai grande parte do público feminino leitor, então ele tem seu mérito, o homem sabe o que faz.

Mas o que me deixou realmente com a pulga atrás da orelha foi não conseguir reconhecer em Um Homem de Sorte, o autor de O Diário de uma Paixão, que é um dos filmes que considero geniais em se tratando de romances inovadores. Preciso ler o livro para ver se o diretor e roteirista do filme deram uma “ajudinha” ou se Nicholas, como todos nós, tem momentos altos e baixos.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Mercado Editorial Brasileiro


Diz o ditado popular que toda pessoa tem que fazer três coisas antes de morrer: Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Lendo essa frase têm-se a impressão de que os itens foram citados por ordem crescente de dificuldade, e caso tenha sido essa a intenção, ainda bem que o autor da frase usou a palavra “escrever”, se houvesse optado por uma menos poética, como “publicar”, talvez o ditado não tivesse se tornado tão popular ou correto, já que um filho nasce em nove meses e publicar um livro, se acontecer, pode levar uns bons anos.

Há algum tempo, comecei uma pesquisa sobre qual seria o processo a ser enfrentado por alguém que quisesse publicar um livro no Brasil. A principio, o passo a passo, não parece tão difícil. Primeiro há, é claro, que se escrever uma obra literária. Depois de concluída, o conselho geral é para que se faça o registro do material na Biblioteca Nacional, isso para que o autor tenha o direito de processar alguém em caso de plágio quando começar a enviar a obra impressa para os quatro cantos do país, pois é esse o próximo passo, mandar para o maior número de editoras que trabalhem com publicações do gênero da sua. É importante fazer essa pesquisa sobre os gêneros de livro com que cada editora trabalha, pois a maioria solicita que a obra seja enviada impressa, então caso o seu livro tenha quinhentas páginas, ou mesmo cem, ninguém gosta de gastar dinheiro com impressão e envio de um material que a editora nem mesmo vai ler, pois não se enquadra na sua linha de trabalho e produção.

Feito isso, é esperar. E esperar sentado, deitando eventualmente. A maioria das editoras pede um prazo de até seis meses para analisar sua obra e lhe dar alguma resposta. Isso quando dão. A outra grande maioria não da qualquer tipo de feedback e como geralmente pedem sinopse e resumo, é de se concluir que nem chegam a fazer uma avaliação total do conteúdo da obra, o que é um erro, pois se dependesse de resumos, eu deixaria de ter lido livros excelentes.

Mas qual o problema? Como há tantos livros no mercado se há tantas negativas? A resposta é simples: traduções. As editoras brasileiras adoram comprar direitos autorais de obras que já fazem sucesso em outros países e somente traduzi-las para o português. Já vem com o número de vendas de exemplares no exterior estampado na capa e o lucro é garantido.

Uma boa tacada para o mundo capitalista, uma bela facada no mercado literário nacional. Acumulando pilhas de negativas de editoras e frustração, é cada vez mais comum ao autor nacional percorrer caminhos alternativos.

Um desses caminhos são as editoras para as quais você paga pela revisão, capa e publicação do material e ela ajuda a promovê-lo. Empresas que prestam esse serviço já possuem vários planos disponíveis, no melhor esquema de companhia telefônica. Mediante o pagamento de tal quantia você publica. Por uma soma extra, ganha uma capa e por mais um bocadinho a revisão também.

Outra opção nasceu da ideia de pessoas que perceberam a realidade do mercado editorial e resolveram criar empresas online, cujo site aceita qualquer tipo de obra e a publica sem custo. Caso o livro venda e lucre uma determinada quantia mínima, o autor começa a receber uma porcentagem do valor arrecadado como direitos autorais.

E existem ainda raríssimas empresas que recebem originais, os analisa e publica pequenas tiragens, arcando eles mesmo com todo custo de produção. Caso todos os exemplares dessa primeira tiragem sejam vendidos, uma nova leva é impressa. Os profissionais dessa empresa também ajudam a promover o livro em lançamentos e canais online, assim como dão dicas de como o próprio autor pode começar a fazer propaganda da sua obra. O lucro do autor vem novamente de uma porcentagem sobre cada exemplar vendido, acertado previamente com a editora.

Esses são caminhos cada vez mais seguidos por autores que cansaram de ver seus livros na gaveta. Mas sinceramente, podemos culpar apenas as editoras por isso? Levante a mão quem ligou a TV, o rádio, abriu o jornal e viu um espaço mínimo que seja, mas inteiramente dedicado a falar sobre lançamentos literários? Bom, se você achou, me indique, porque eu gostaria de aumentar a audiência em reconhecimento a essa brecha rara.

A mídia atual, mídia de massa, como TV e rádio, não disponibiliza nenhum espaço para a divulgação de obras literárias, o que ajudaria e muito a impulsionar esse mercado e daria um bom incentivo e apoio às editoras para investirem mais em talentos nacionais.

Uma prova dessa realidade é o crescente número de blogs que resenham livros e se dedicam a comentar e indicar obras lidas, ávidos em trocar ideias e informações, e encontrando somente a internet como espaço para isso. Faça uma busca rápida e poderá constatar o grande número de blogs literários em funcionamento atualmente. Graças a isso, é na internet também que os poucos autores nacionais ganham seu destaque e fama. Com as mídias fechadas a esse segmento, a internet é o respiro, o meio pelo quais os leitores, dos casuais aos devoradores de livros, se encontram para comentar e conhecer, e onde também é prestado o reconhecimento aos autores que suaram e continuam suando para conseguir ter suas obras publicadas.

É conhecida a lenda de que “filmes de Hollywood são melhores que os nacionais”, e talvez por isso, o povo brasileiro tenha finalmente experimentado uma leve “revolta” e começamos a presenciar um número maior de pessoas comprando ingressos para apreciar o cinema nacional.

Agora, acredito que já esteja mais do que na hora de jogarmos na nossa própria cara, que creditamos esse estigma à literatura também. Passamos a acreditar que “obras de autores internacionais são melhores que as escritas por brasileiros”. Vamos aceitar isso para começar a mudar e quem sabe assim, editoras e mídia aumentem a abertura e incentivo as mentes e talentos nacionais, indo além da sinopse.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Café Pendente


Esse texto não é meu, é uma matéria de autoria de Vicente Carvalho, publicada no seguinte site:

http://www.hypeness.com.br

Acabei de ler (essa e várias outras matérias desse site genial) e resolvi postar aqui, porque todas as boas ideias devem ser compartilhadas.



por Vicente Carvalho

Fomos conhecer um café na Vila Madalena que pratica o “café compartilhado“, um sistema no qual você toma um café pago por alguém e pode fazer a mesma gentileza: deixar um café pago para outra pessoa. Esse hábito do “café pendente” surgiu por conta do livro The Hanging Coffee, no qual um personagem toma seu café e ao pagar a conta deixa pago dois cafés: o seu e um pendente para o próximo cliente que vier.

Cheguei ao Ekoa Café sem avisar, sem marcar horário, simplesmente fui. Chegando lá já vi um quadro falando sobre o café compartilhado, e que haviam 3 cafés cedidos, vejam o quadro acima (quando tirei a foto já havia sido apagado um dos cafés) .

Então, junto com o café, chegou um simpático bilhete anônimo da pessoa que o deixou pago:


E tomei o café com uma sensação mais do que boa de fazer parte dessa “corrente do bem”. Posteriormente, pedi pra falar com a proprietária, e então a Marisa me contou que realmente a inspiração veio por conta do livro citado acima, que a ideia funciona há 3 anos, e que desde então já ouviu várias histórias inspiradoras por conta desses atos de bondade, onde a citação “Gentileza gera Gentileza” é elevada a um outro patamar.

Marisa me contou também que escolheu o café como o ‘objeto’ de compartilhamento por conta do custo ser mais acessível, mas que já houveram pessoas que pagaram almoços, pratos específicos, sobremesas e tudo mais que possa ser compartilhado com o próximo. Disse ainda que compartilha da mesma ideia que eu, de que é uma eterna otimista, e fica impressionada com a quantidade de pessoas que duvidam que esse tipo de ideia não daria certo no Brasil, duvidando se o café será entregue e por aí vai.

Fica aqui uma grande lição para todos nós de que sim, temos Razões para Acreditar num mundo melhor. E para quem está se perguntando, sim, também deixei um café compartilhado com um bilhetinho.

A história que me fez conhecer o “café pendente” foi essa aqui:

“O café pendente”

“Entramos em um pequeno café, pedimos e nos sentamos em uma mesa. Logo entram duas pessoas:
- Cinco cafés. Dois são para nós e três “pendentes”.
Pagam os cinco cafés, bebem seus dois e se vão. Pergunto:
- O que são esses “cafés pendentes”?
E me dizem:
- Espera e vai ver.
Logo vêm outras pessoas. Duas garotas pedem dois cafés – pagam normalmente. Depois de um tempo, vêm três advogados e pedem sete cafés:
- Três são para nós, e quatro “pendentes”.
Pagam por sete, tomam seus três e vão embora. Depois um rapaz pede dois cafés, bebe só um, mas paga pelos dois. Estamos sentados, conversamos e olhamos, através da porta aberta, a praça iluminada pelo sol em frente à cafeteria. De repente, aparece na porta, um homem com roupas baratas e pergunta em voz baixa:
- Vocês têm algum “café pendente”?
Esse tipo de caridade, apareceu pela primeira vez em Nápoles. As pessoas pagam antecipadamente o café a alguém que não pode permitir-se ao luxo de uma xícara de café quente. Deixavam também nos estabelecimentos, não só o café, mas também comida. Esse costume ultrapassou as fronteiras da Itália e se difundiu em muitas cidades de todo o mundo.”





Gentileza gera gentileza

Uma xícara de café a todas as ideias boas, inspiradas em melhorar o dia de outra pessoa.





quarta-feira, 3 de abril de 2013

Resenha: Quebra de Confiança - Harlan Coben


Escrevi a resenha sobre esta obra há um tempo atrás para o blog da Marina, uma amigona que reencontrei depois de muito tempo e que divide comigo todas as novidades e comentários sobre livros. Foi graças a ela também que me inspirei para fazer esse blog :)

Quem gosta de romance em especial não pode deixar de visitar o blog dela:


Uma leitora ávida e romântica incurável, ela tem as melhores dicas sobre obras do gênero.

Agora, voltando a resenha, como sou fã do Coben e esse é o primeiro de uma série de livros seus que tem o mesmo personagem principal, não poderia deixar de postá-la aqui também.


Título: Quebra de Confiança (Deal Breaker)
Autor: Harlan Coben
Páginas: 272
Editora: Arqueiro


Quebra de confiança é o livro que apresenta o primeiro caso de Myron Bolitar, personagem principal da série de suspense policial de Harlan Coben.

Cheguei a minha primeira obra de Coben procurando por um livro bom, de um autor que eu ainda não conhecesse e que não fosse muito para “mulherzinhas”. Apesar de todo mérito de Nicholas Sparks, ele não se enquadrava em todos os pré-requisitos da vez, e tive que dizer não à simpática vendedora. Assim, acabei chegando a outro autor que estampa milhões de cópias vendidas em suas capas.

Devo admitir que minha impressão das duas primeiras páginas do livro de Coben não foram muito boas. Não porque eram repletas de descrições enfadonhas sobre cenários que o autor faz questão que você imagine até o último detalhe da maçaneta, muito pelo contrário, os diálogos são rápidos, mas babacas. O personagem principal, o agente esportivo Myron Bolitar, se comporta e fala como um adolescente boçal em uma reunião de negócios.

Representante de Christian Steele, um jovem astro e promessa milionária do futebol americano, Bolitar acaba se envolvendo no misterioso caso do desaparecimento da namorada de Christian, Kathy Culver. Apesar de o caso ter ocorrido há mais de um ano e nada ter sido descoberto além de fortes indícios de agressão sexual, prestes a fechar um grande negócio, Christian recebe um exemplar de uma revista que traz a foto de Kathy em um anúncio de disque sexo.

Esse novo indício de que Kathy possa estar viva e algo horrível tenha acontecido com ela desestabiliza Christian e agora Myron tem que correr contra o tempo para solucionar esse mistério e ao mesmo tempo salvar a carreira do garoto.

É verdade que alguns diálogos deixam escapar as frases bobas e boçais do inicio, mas não demora muito até que a narrativa rápida e clara de Coben o pegue para uma madrugada toda em claro.

Em capítulos curtos, o autor narra um suspense ágil e convincente, repleto de intrigas e mistérios. À medida que seus outros personagens, como o melhor amigo de Myron, o rico e perigoso Wyn (a cereja do bolo) são apresentados e envolvidos na trama para desvendar o mistério cujas poucas pistas apontam para crime sexual, o leitor cai numa armadilha de interesse e avidez da qual dificilmente conseguirá sair. Mas enfim, acho que é por isso que seu público já consolidado o batizou de “mestre das noites em claro”. 

Boa leitura e que o café seja forte no dia seguinte.

domingo, 24 de março de 2013

Resenha: Os Miseráveis - Victor Hugo


Escrito em 1862 por Victor Hugo, Os Miseráveis, um romance que retrata a situação de miséria e injustiça vivida na França do século XIX, é uma obra-prima. Com um realismo chocante e ao mesmo tempo tocante, o autor descreve um cenário de pobreza e opressão. Uma nação sobrecarregada de tributos, onde poucos tem muito, muitos não tem nada e alguns se rebelam. Uma história que retrata a atualidade, escrita há mais de um século atrás. 

A obra narra à vida de Jean Valjean, um homem que é preso por roubar um pedaço de pão para alimentar a irmã e seus sete sobrinhos, e acaba cumprindo dezenove anos de trabalhos forçados na prisão.

Finalmente posto em liberdade, Jean Valjean é obrigado a andar com um pedaço de papel que o identifica como ex-prisioneiro e por isso não consegue trabalho ou hospedagem em lugar algum. Por fim, uma noite recebe abrigo na casa do bondoso Bispo Myriel, mas acaba roubando objetos de prata e fugindo. Já no dia seguinte a policia o captura e o leva de volta à casa do Bispo, para que devolva o que roubou.

Mas ao invés de acusá-lo, o Bispo o defende, falando que os objetos não foram roubados, mas sim um presente que ele havia lhe dado. Para confirmar o que dizia o Bispo ainda lhe entrega dois castiçais de prata, dizendo que vá, mas que não se esqueça de que Deus o ajudou e mostrou misericórdia, aconselhando-o a usar o dinheiro para se redimir. Envergonhado e tocado pela bondade do Bispo, Jean Valjean então se retira para os Alpes, rasga o papel que o condenava e volta a reaparecer no outro extremo da França, sob o pseudônimo de pai Madeleine, um rico dono de fábrica, bom e caridoso.

Nesse ponto da história, ele reencontra Javert, o inspetor de polícia obcecado em achá-lo e prendê-lo novamente, mas que a principio não o reconhece, e passamos a conhecer Fantine, uma jovem abandonada pelo namorado com quem teve uma filha. Fantine trabalha na fábrica, mas acaba sendo expulsa quando descobrem que ela é mãe solteira (isso acontece sem o conhecimento de Valjean). Pobre e sem ter onde ficar, Fantine havia deixado a filha Cosette aos cuidados do casal Thénardier, uma dupla de ladrões sem caráter, donos de uma estalagem, que sem que ela soubesse maltratavam e exploravam Cosette.  

Ao mesmo tempo em que testemunhamos a redenção e ascensão de Jan Valjean, observamos a queda de Fantine. Sem emprego, preocupada em mandar todo tostão que ganhava para a filha, Fantine acaba se prostituindo, vendendo os cabelos e até os dentes, enquanto parece sofrer de uma doença desconhecida.

A obra é extensa e se divide em cinco volumes, cada qual com o nome de um dos personagens principais que participam de sua história. Há inúmeros personagens, alguns secundários que aparecem, mas são logo esquecidos.

Cheia de reviravoltas, ela se desenrola com a morte de Fantine, a promessa que Valjean faz de cuidar de Cosette, a perseguição obcecada de Javert e o início de revoltas populares por grupos de estudantes revolucionários.

Victor Hugo é mestre em criar um cenário realista em que várias histórias se desenvolvem e se cruzam. Havendo sido em vida um defensor engajado dos pobres e oprimidos, lutando por várias causas civis, Victor Hugo descreve a miséria realista e dura como ela é, na humilhação de Valjean, na fome e fraqueza de Fantine, na exploração de Cosette.

Em 1980 a obra foi adaptada para um musical por Claude-Michel Schönberg e se tornou um dos espetáculos mais assistidos no mundo.

Recentemente ganhou sua adaptação para o cinema, que apesar de não ter tempo hábil para todos os desdobramentos e detalhes da obra escrita, eu recomendo pulando na ponta dos pés e batendo palmas. Musical do começo ao fim, com todos os diálogos e ações cantadas por um grupo de atores excelentes, Os Miseráveis ficou grandioso em tela como é no papel. Belo, emocionante, com uma orquestra impecável, o filme é um gigante que faz o espectador esquecer onde está, ou mesmo em que século.

Palmas para a performance excepcional de Anne Hathaway cantando “I Dreamed a Dream”, que conseguiu tirar da música a beleza lúdica dada no teatro e colocá-la no verdadeiro mundo de Fantine. E para o pequeno e valente Gavroche, um dos meus personagens favoritos.

Leia o livro (pode ser uma das versões resumidas), veja o filme e se tiver a chance, veja o musical ao vivo (entrou na minha lista do que “não posso morrer sem ver”). Enquanto isso, o YouTube é um prato cheio de vídeos de inúmeras apresentações já feitas pelo mundo. Abaixo vou colocar uma das minhas favoritas. É o espetáculo completo, mas você pode achar apenas partes. Recomendo também as apresentações com o magnífico Alfie Boe no papel de Jean Valjean. O que mais posso dizer? Já assisti nove vezes, duas enquanto escrevia esse texto.



Obs: "I Dreamed a Dream" se tornou a música mais conhecida, mas pra mim "One Day More" e "Empty Chairs", uma pela força outra pela emoção, estão no mesmo nível de aplausos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Resenha: Morte Súbita - J.K. Rowling




Título: Morte Súbita (The Casual Vacancy)
Autora: J.K. Rowling
Páginas: 501
Editora: Nova Fronteira


Escolhi esse livro como tema para minha primeira resenha porque, sim, sou fã de Harry Potter, acho genial e até hoje não consigo deixar de pensar que J.K. deve ter sido inspirada por uma força maior, que queria convencer gerações a se interessarem pela leitura.

Dito isso, começo a resenha oficial de Morte Súbita declarando que Rowling se supera nessa nova obra. Mas não vá esperando nada parecido com Harry Potter. 

Em Morte Súbita o mundo de fantasia fica para trás e o que temos é um romance duro e realista, com personagens tão humanos, que fica difícil de gostar ou aprovar algum.

Tudo começa com a morte súbita de Barry Fairbrother, cidadão respeitado e membro do conselho distrital de Pagford, uma pequena cidade do interior da Inglaterra. Logo no primeiro capitulo, sua morte inesperada causa um verdadeiro rebuliço, deixando não apenas seu posto de pai, marido e treinador escolar em aberto, mas uma cobiçada vaga no conselho. 

Aos poucos somos apresentados a uma pequena comunidade onde cada personagem enfrenta uma série de tensões e conflitos. A morte de Fairbrother serve como estopim para que um frágil equilíbrio entre relações já estremecidas se rompa, e são deflagradas verdadeiras guerras entre maridos e mulheres, filhos e pais, ricos e pobres, professores e alunos. Nesse ínterim, somos apresentados a personagens como Howard Mollison, o gordo e expansivo dono de uma delicatessen e líder do conselho distrital, e Krystal Weedon, uma adolescente de Fields (espécie de favela da cidade), criada por uma mãe drogada num ambiente imundo e permissivo, onde ela tem que sobreviver, cuidar do irmão mais novo e monitorar a mãe para que ela ande na linha e não perca novamente a guarda do filho.

Numa sucessão de capítulos em que cada personagem vira protagonista, a autora aborda questões diversificadas, como pais abusivos, bullyng, internet, sexo, drogas, morte, marginalidade e mais um amplo leque de problemas que parecem nunca ficar velhos.

O mérito de Rowling? Ser capaz de criar personagens de todos os gêneros, faixa etária e condição social, e transcrever seus pensamentos e emoções, com uma naturalidade e realidade chocante. Mostrar que somos todos capazes de pensamentos que nos dariam nojo, se pudéssemos enxergar em nós mesmos, como somos capazes de apontar nos outros.

Definitivamente uma grande obra, de uma grande autora.