domingo, 24 de março de 2013

Resenha: Os Miseráveis - Victor Hugo


Escrito em 1862 por Victor Hugo, Os Miseráveis, um romance que retrata a situação de miséria e injustiça vivida na França do século XIX, é uma obra-prima. Com um realismo chocante e ao mesmo tempo tocante, o autor descreve um cenário de pobreza e opressão. Uma nação sobrecarregada de tributos, onde poucos tem muito, muitos não tem nada e alguns se rebelam. Uma história que retrata a atualidade, escrita há mais de um século atrás. 

A obra narra à vida de Jean Valjean, um homem que é preso por roubar um pedaço de pão para alimentar a irmã e seus sete sobrinhos, e acaba cumprindo dezenove anos de trabalhos forçados na prisão.

Finalmente posto em liberdade, Jean Valjean é obrigado a andar com um pedaço de papel que o identifica como ex-prisioneiro e por isso não consegue trabalho ou hospedagem em lugar algum. Por fim, uma noite recebe abrigo na casa do bondoso Bispo Myriel, mas acaba roubando objetos de prata e fugindo. Já no dia seguinte a policia o captura e o leva de volta à casa do Bispo, para que devolva o que roubou.

Mas ao invés de acusá-lo, o Bispo o defende, falando que os objetos não foram roubados, mas sim um presente que ele havia lhe dado. Para confirmar o que dizia o Bispo ainda lhe entrega dois castiçais de prata, dizendo que vá, mas que não se esqueça de que Deus o ajudou e mostrou misericórdia, aconselhando-o a usar o dinheiro para se redimir. Envergonhado e tocado pela bondade do Bispo, Jean Valjean então se retira para os Alpes, rasga o papel que o condenava e volta a reaparecer no outro extremo da França, sob o pseudônimo de pai Madeleine, um rico dono de fábrica, bom e caridoso.

Nesse ponto da história, ele reencontra Javert, o inspetor de polícia obcecado em achá-lo e prendê-lo novamente, mas que a principio não o reconhece, e passamos a conhecer Fantine, uma jovem abandonada pelo namorado com quem teve uma filha. Fantine trabalha na fábrica, mas acaba sendo expulsa quando descobrem que ela é mãe solteira (isso acontece sem o conhecimento de Valjean). Pobre e sem ter onde ficar, Fantine havia deixado a filha Cosette aos cuidados do casal Thénardier, uma dupla de ladrões sem caráter, donos de uma estalagem, que sem que ela soubesse maltratavam e exploravam Cosette.  

Ao mesmo tempo em que testemunhamos a redenção e ascensão de Jan Valjean, observamos a queda de Fantine. Sem emprego, preocupada em mandar todo tostão que ganhava para a filha, Fantine acaba se prostituindo, vendendo os cabelos e até os dentes, enquanto parece sofrer de uma doença desconhecida.

A obra é extensa e se divide em cinco volumes, cada qual com o nome de um dos personagens principais que participam de sua história. Há inúmeros personagens, alguns secundários que aparecem, mas são logo esquecidos.

Cheia de reviravoltas, ela se desenrola com a morte de Fantine, a promessa que Valjean faz de cuidar de Cosette, a perseguição obcecada de Javert e o início de revoltas populares por grupos de estudantes revolucionários.

Victor Hugo é mestre em criar um cenário realista em que várias histórias se desenvolvem e se cruzam. Havendo sido em vida um defensor engajado dos pobres e oprimidos, lutando por várias causas civis, Victor Hugo descreve a miséria realista e dura como ela é, na humilhação de Valjean, na fome e fraqueza de Fantine, na exploração de Cosette.

Em 1980 a obra foi adaptada para um musical por Claude-Michel Schönberg e se tornou um dos espetáculos mais assistidos no mundo.

Recentemente ganhou sua adaptação para o cinema, que apesar de não ter tempo hábil para todos os desdobramentos e detalhes da obra escrita, eu recomendo pulando na ponta dos pés e batendo palmas. Musical do começo ao fim, com todos os diálogos e ações cantadas por um grupo de atores excelentes, Os Miseráveis ficou grandioso em tela como é no papel. Belo, emocionante, com uma orquestra impecável, o filme é um gigante que faz o espectador esquecer onde está, ou mesmo em que século.

Palmas para a performance excepcional de Anne Hathaway cantando “I Dreamed a Dream”, que conseguiu tirar da música a beleza lúdica dada no teatro e colocá-la no verdadeiro mundo de Fantine. E para o pequeno e valente Gavroche, um dos meus personagens favoritos.

Leia o livro (pode ser uma das versões resumidas), veja o filme e se tiver a chance, veja o musical ao vivo (entrou na minha lista do que “não posso morrer sem ver”). Enquanto isso, o YouTube é um prato cheio de vídeos de inúmeras apresentações já feitas pelo mundo. Abaixo vou colocar uma das minhas favoritas. É o espetáculo completo, mas você pode achar apenas partes. Recomendo também as apresentações com o magnífico Alfie Boe no papel de Jean Valjean. O que mais posso dizer? Já assisti nove vezes, duas enquanto escrevia esse texto.



Obs: "I Dreamed a Dream" se tornou a música mais conhecida, mas pra mim "One Day More" e "Empty Chairs", uma pela força outra pela emoção, estão no mesmo nível de aplausos.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Resenha: Morte Súbita - J.K. Rowling




Título: Morte Súbita (The Casual Vacancy)
Autora: J.K. Rowling
Páginas: 501
Editora: Nova Fronteira


Escolhi esse livro como tema para minha primeira resenha porque, sim, sou fã de Harry Potter, acho genial e até hoje não consigo deixar de pensar que J.K. deve ter sido inspirada por uma força maior, que queria convencer gerações a se interessarem pela leitura.

Dito isso, começo a resenha oficial de Morte Súbita declarando que Rowling se supera nessa nova obra. Mas não vá esperando nada parecido com Harry Potter. 

Em Morte Súbita o mundo de fantasia fica para trás e o que temos é um romance duro e realista, com personagens tão humanos, que fica difícil de gostar ou aprovar algum.

Tudo começa com a morte súbita de Barry Fairbrother, cidadão respeitado e membro do conselho distrital de Pagford, uma pequena cidade do interior da Inglaterra. Logo no primeiro capitulo, sua morte inesperada causa um verdadeiro rebuliço, deixando não apenas seu posto de pai, marido e treinador escolar em aberto, mas uma cobiçada vaga no conselho. 

Aos poucos somos apresentados a uma pequena comunidade onde cada personagem enfrenta uma série de tensões e conflitos. A morte de Fairbrother serve como estopim para que um frágil equilíbrio entre relações já estremecidas se rompa, e são deflagradas verdadeiras guerras entre maridos e mulheres, filhos e pais, ricos e pobres, professores e alunos. Nesse ínterim, somos apresentados a personagens como Howard Mollison, o gordo e expansivo dono de uma delicatessen e líder do conselho distrital, e Krystal Weedon, uma adolescente de Fields (espécie de favela da cidade), criada por uma mãe drogada num ambiente imundo e permissivo, onde ela tem que sobreviver, cuidar do irmão mais novo e monitorar a mãe para que ela ande na linha e não perca novamente a guarda do filho.

Numa sucessão de capítulos em que cada personagem vira protagonista, a autora aborda questões diversificadas, como pais abusivos, bullyng, internet, sexo, drogas, morte, marginalidade e mais um amplo leque de problemas que parecem nunca ficar velhos.

O mérito de Rowling? Ser capaz de criar personagens de todos os gêneros, faixa etária e condição social, e transcrever seus pensamentos e emoções, com uma naturalidade e realidade chocante. Mostrar que somos todos capazes de pensamentos que nos dariam nojo, se pudéssemos enxergar em nós mesmos, como somos capazes de apontar nos outros.

Definitivamente uma grande obra, de uma grande autora.


quarta-feira, 13 de março de 2013

Inauguração


Consegui! Depois de quatro dias discutindo com o Blogspot por um endereço, um nome com o qual ele me deixasse batizar esse filho inventado, cá estou! Bateria palmas, mas acho que desativei a opção de usar "emos" aqui... não estou bem certa...

Mas com emos ou não, apresento meu novo Blog, que espero que sirva para algo de bom, para mim e para mais alguém que eventualmente passar por aqui.

O nome dele é ´"Verbo por Escrito", mas antes ele tentou ser "Em Linhas Gerais", "Letras a Mil", "Páginas Avulsas", "Café com Rum" e outras exatas dezessete opções. Nesse processo descobri que grande parte do mundo tem Blog. Tô atrasada.

Então, para não perder nem mais um minuto, apresento a vocês "Verbo por Escrito", um nome que acabei escolhendo porque representa não só o meu amor pelas palavras, o que justifica minha vontade de usá-las e e dividi-las aqui, como o poder que elas têm. Verbo é ação, toda palavra é a ação de um pensamento e a capacidade de pensar é o maior dom e o maior triunfo de todos nós.

Todos os grandes líderes que a história já viu, bons ou maus, descobriram que erguer uma espada não faz  com que uma multidão inteira marche, mas erguer a voz em palavras bem colocadas faz.

O pensamento é um dom humano, a sua transformação em palavras é o refinamento desse dom, um refinamento chamado inteligência. A inteligência cria palavras, que formam teorias, que divulgam descobertas, que compartilham sabedoria, que desencadeiam outras inúmeras ações que fazem a vida acontecer.

Esse enfim é o propósito desse Blog, transformar palavras em ações e vice-versa. Compartilhar, comentar, criticar, elogiar, bater e debater. Vou usar as palavras ao meu bel prazer, com o refinamento que minha inteligência me permite, seja bem vindo para fazer o mesmo.